quinta-feira, 25 de junho de 2009

Talvez simplesmente não lhe diga respeito


O grande segredo de um bom relacionamento é saber que só podemos mexer na gaveta quando ela estiver aberta - e quando ela estiver aberta pra você.
É preciso saber entender o silêncio. Talvez por isso seja tão difícil. Como entender o que não diz nada, afinal?
É preciso entender - ou chegar perto disso - o que dizem as entrelinhas, é preciso ouvir, é preciso esperar a hora certa de falar.
No trabalho, em casa, com o namorado, em qualquer relação que seja: é preciso aprender a decifrar cada pessoa.
É preciso aprender a ler, a ouvir, e esperar a hora certa de falar.
Você pode ter a melhor das intenções - mas, se o outro não estiver pronto pra ouvir, ela vai por água abaixo.
Você tem que ir até onde o outro lhe permitir.
Entrar pela porta que se abre.
Por mais que você tenha uma ótima resposta para aquele problema que você sabe que seu amigo está passando, talvez ele não queira ouvir a sua resposta, ainda.
Talvez não esteja pronto.
Talvez ele já saiba a resposta.
Talvez isso.
Talvez aquilo.
Talvez simplesmente não lhe diga respeito.
E, por melhor que seja sua intenção, repito: ela pode estragar tudo.
As pessoas se sentem julgadas com muita facilidade: "como alguém que não vive o meu problema pode ter uma resposta pra ele? Como ousam observar o meu sofrimento com tanta simplicidade, sem dor?"
Então vamos lá, de novo: só fale aquilo que o outro te deu abertura para falar.
Só vá até onde lhe foi permitido.
Só mexa na gaveta aberta.
Aberta pra você.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Aproveite bem o seu dia


Você está feliz, vivendo a sua vida.
Feliz por mais um dia.
Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico.
Era a realizaçõ de um sonho.
Paris.
Torre Eiffel.
Amor.
Croissant.
Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou.
Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim.
Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos.
Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali.
Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso.
Fim!
Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios.
Como se jamais tivesse existido.
Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios.
Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor.
Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria.
Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses.
Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo.
Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste.
Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro.
Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo.
Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais.
Fim!
Então, aproveite bem o seu dia. Extraia dele todos os bons sentimentos possíveis.
Não deixe nada para depois.
Diga o que tem para dizer.
Demonstre.
Seja você mesmo.
Não guarde lixo dentro de casa.
Não cultive amarguras e sofrimentos.
Prefira o sorriso.
Dê risada de tudo, de si mesmo.
Não adie alegrias nem contentamentos nem sabores bons.
Seja feliz.
Hoje.
Amanhã é uma ilusão.
Ontem é uma lembrança.
No fundo, só existe o agora.

Simplifique!


Por Adriano Silva 04/06/2009 – Revista Exame - com adaptações.