sábado, 30 de maio de 2009
Faz parte do meu Show
Li, há algum tempo atrás, uma crítica feita à Cazuza e seu filme.
Na verdade, alguns fatos devem ser esclarecidos:
O primeiro é que essa critica não foi feita por uma psicóloga, e sim por uma funcionária do Ministério da Agricultura, aqui de Brasília - não se tratando, portanto, de uma análise de credibilidade científica, tampouco justa.
A divulgação dessa crítica mal construída, atrasada e colocada claramente sob uma ótica grosseira e cheia de preconceitos nada tácitos é, pois, de uma falta de sensibilidade aguda para com o poeta, sua família, seus fãs - e para com com a própria pessoa que assina a crítica, já que opta por se expor de forma tão indelicada, opinando, publicamente, e com orgulho, sobre aquilo que não conhece.
Em cada traço de sua crítica, a funcionária grita ter culhões. E de culhões deve mesmo ser formado o sujeito que, assim como ela fez, decide divulgar que não lê biografias, nunca estudou as teorias da comunicação, não procurou a origem nem conceitos do que é ideologia, ou do que é ser ídolo (pq provavelmente não sabe dos sentidos que existem por trás do conceito "ídolos errados") e, mesmo assim, se sente habilitado para falar sobre. Traz, ela mesma, sua própria forca, ao divulgar sua própria ignorância.
Direito dela é, no entanto, fazê-lo. E, assim como é um direito dela, é um direito de todos. E, já que é, discorro também:
O filme não faz - tampouco cazuza - apologia às drogas. Também não quer, ele, transmitir mensagem de que drogas, sexo, rock and roll e um pouquinho de homosexualidade é uma combinação que dá certo.
Devemos lembrar que o protagonista - e ídolo de uma geração - termina seus dias em uma cadeira de rodas, vítima da AIDS. Não existiu, ali, um final feliz.
De outro lado, percebam: assim como não era a idéia dizer que aquilo tudo (sexo, drogas,
homossexualidade) era tão bom que devesse configurar-se padrão a ser seguido pelos jovens, menos ainda visava dizer que ele perdeu sua vida como consequência de suas escolhas - todas erradas e fadadas ao fracasso (até pq não foi a verdade). Não. A idéia não era exibir lições de moral, tampouco fazer ode à subversão.
1- Não há uma crítica ao homossexualismo - nem deveria ter. Quem são eles, senão nós?
2- Não há uma crítica ao sexo livre (mas fica a dica do sexo seguro, obviamente, para os mais inteligentes).
3- Não há uma crítica à personalidade intensamente anti-heróica, que beirava à fraqueza, do Cazuza (o filme é puramente narrativo, onde constam passagens sobre fases pelas quais esse poeta passou e também sobre facetas que vestiu - sendo elas boas ou não).
Assim como qualquer um de nós, ele era um ser cheio de defeitos - o filme não os escondeu, pelo contrário: descreveu sobre um homem que, encharcado deles, vícios, intensidade e ideologias, nasceu num berço x, viveu as situações y, foi infeliz em muitas escolhas e atitudes - e absolutamente feliz em outras.
Era humano, tornou-se um grande poeta, possuiu em si o dom de tocar e conquistar corações e mentes jovens, que, até ali, não possuíam - nem possuem - uma pátria exatamente rica em
heróis e pessoas pra se admirar em sua genialidade - e é o que esse errante era: um gênio, um poeta, dono de sensibilidade única - que o fez digno de alcançar o interesse de uma geração que o tornou e o torna imortal para futuras gerações.
Cazuza é o João, que mora na Paulista.
É o Caio, filho do governador de Firunfufina, no Rio.
É Maria, vizinha da sua tia.
Ele era todos esses, juntos em suas perfeições e imperfeições - mas que, em algum momento, acabou se destacando, ascendendo.
E é preciso entender que pai-dono-de-produtora nenhum faz filho ser adorado nacionalmente por gerações seguidas. É preciso que saibamos dar os devidos créditos aqui.
Também parecia haver, nessa crítica, uma infeliz comparação entre o filme e um vírus, onde os efeitos trazidos por quem o assiste são previsíveis, diretos e fatais. Teoria hipodérmica, teoria ultrapassada. Isso é falso. Aquilo que se vê na televisão ou no mundo é influenciante, porém, não determinante. E nenhuma mensagem subliminar estava intencionalmente sendo empurrada à ninguém, ali. Nenhuma "reverência" era feita ao Cazuza "marginal", apenas às suas letras e composições realistas e ideológicas, à sua personalidade, à sua intensidade, que marcaram as pessoas de uma forma muito positiva e inspiradora, na época.
Não se trata, pois, de reverências ao que de ruim (o que é um conceito subjetivo) Cazuza fez ou viveu. Se trata da história de um homem que foi reverenciado pelo que nele havia de bom e não-usual. Saibamos separar o joio do trigo.
E, se é mesmo culpa dos pais o motivo de existirem muitos filhos agindo de forma inconsequente para com seus corpos e também para com suas vidas (o que tb é outra teoria furadíssima e injusta) - é também culpa dos pais que seus filhos ignorantes assistam a uma biografia e queiram, ipsis litteris, traçar o mesmo caminho do homem que passaram a admirar pelo que de bom transmitiu, sem analisar as consequências disso.
Como a funcionária pública parece muito bem esclarecida em relação a isso - e muito bem treinada para domar seus filhos - não deveria, então, se preocupar tanto. Seus filhos estarão em boas mãos, assistindo filmes com teor real ou não. Caso ainda não esteja segura disso, continue dizendo não. Continue proibindo biografias como fonte de reflexão.
Rodrigo Duarte Torres,
Administrador,
Brasília - DF.
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Abaixo, a crítica maluca - claramente não redigida por uma psicóloga:
Uma psicóloga que assistiu o filme Cazuza, escreveu o seguinte texto:
- Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me deparei com uma coisa estarrecedora. As pessoas estão cultivando ídolos errados.
Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza?
Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado.
No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta. São esses pais que devemos ter como exemplo?
Cazuza só começou a gravar pois o pai era diretor de uma grande gravadora. Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante. Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso.
Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não. Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou. Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria? Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor.
Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido ..Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissesem NÃO quando necessário?
Lembrem-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor . Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar. Não se preocupe em ser 'amigo' de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi a pessoa que mais os amou e foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz SIM sempre.
Karla Christine
Psicóloga Clínica
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